Gorda
- Samantha Godoy Collares
- 15 de jan. de 2015
- 3 min de leitura
Não é fácil ser gorda, mas se eu não fosse gorda não seria eu.. Acho que eu seria um ponto invisível e apagado entre o não ser e o ser, acho que eu não teria história. Por vezes me sinto mal, quero sumir. Outras me sinto horrível. Há momentos em que eu quero ignorar… Mas meu corpo chama, ele chama pro presente e o real. Ser gorda não é uma sensação. É real… Sou lembrada disso olhando nos olhos das pessoas, lembrada em lugares públicos, lembrada ao sentar uma cadeira.
Quero ser uma mulher feminista que luta contra a gordofobia. Quando eu sou lembrada que sou mulher logo em seguida lembram-me que eu sou gorda. Isso é o que as pessoas sabem sobre mim. Mas eu quero que elas saibam que tenho momentos horríveis, mas tenho momentos bons. Quero ser respeitada e tratada com dignidade não importa o que me levou a ser gorda. Pessoas doentes o que não é o caso de pessoas gordas, existem. E elas não merecem ser destratadas porque estão doentes.
Eu sou gorda, não tenho uma boa alimentação. Mas outras mulheres gordas tem. E apesar de saber disso e terem que provar isso primeiro antes de poder lutar contra a gordofobia, se sente frustradas porque, se não há nada de errado com elas, qual o problema? Mas o erro somos nós. É nossa barriga que balança, é o jeito que enfeiamos o lugar. Mas mesmo assim, se eu não fosse gorda, não seria eu. Vivo controlada como todas as mulheres. Eu não quero ser controlada. Eu quero um poder não - cego, mas um poder realista. De saber das minhas adversidades e no entanto jamais ser humilhada em transportes públicos, em lojas, em mercado de trabalho, em clínicas de saúde. Quero ser tratada como gente. Como mulher. Porque eu quero insistir nessa luta? Porque sou eu. Porque eu sei o quanto isso magoa. E não sou eu que tenho que me adequar ao que a sociedade quer, é ela que tem que se adequar a mim. Porque não sou só eu. Sou um coletivo de mulheres gordas naturalizadas na gordofobia.
Sou um coletivo de meninas adolescentes com transtorno alimentar, morrendo, se suicidando. A pressão estética é violenta, afeta todas nós, gordas ou magras. Nunca estamos satisfeitas. Porque nos ensinaram a não ser satisfeitas. Mas a gordofobia, é uma das armas tão diretas do machismo. Nenhuma mulher consegue ter uma boa alimentação e praticar exercícios físicos sem uma vistoria. Sem ficar pensando nisso 24h por dia. Sem ser controlada. A preocupação com a saúde é tão grande, mas nenhuma mulher consegue emagrecer sem uma dieta rígida. E o processo é infeliz, e quando atingem o ponto, são infelizes também. Parece impossível se amar enquanto gordas. Mas não é. É difícil, mas não é impossível. Ser gorda é uma característica, assim como ser magra. Pessoas magras em geral não tem nem um pouco um bom hábito alimentar ou fazem exercícios físicos cotidianamente. Mas aí é que está… Essas pessoas são magras, então não tem problema. O problema é esse: é a fobia contra pessoas gordas. O problema é minha barriga que balança. E não importa se eu e dezenas de mulheres mostrarmos nossos exames em perfeito estado, não. Estamos mentindo. Estamos querendo enganar a quem? Mas não estamos enganando. Pessoas sedentárias existem, e existem entre pessoas gordas e magras. A gordofobia é o terror de ser como nós já somos. Se sentir gorda é diferente de ser gorda. Não é fácil ser. Mas vivemos essa realidade; E sabemos que não merecemos a exclusão e ridicularização que estamos todos submetidos. O que levou eu a ser assim? O que levou eu a ser um erro? Bom, não sei. Mas eu acertei, quando eu me olhei no espelho e me vi. Me vi como eu realmente sou.
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